Poemas do Japão Antigo: seleções do Kokin'wakashu
Andrei CunhaO Kokin’wakashû (também conhecido pelo seu nome abreviado, Kokinshû) estabeleceu o modelo a ser seguido nos mais diversos níveis: a forma poética, as situações em que se fazia poesia e mesmo quais elementos da natureza tinham mais força simbólica do que outros no momento de se escrever literatura.
O “Prefácio em hiragana” desta antologia, de autoria do grande poeta e editor Ki no Tsurayuki (e cuja tradução está incluída neste volume) é visto por muitos como um “equivalente japonês” da Poética de Aristóteles. Em que pesem as grandes diferenças de tempo, concepção de mundo, cultura, contexto e intenção, a literatura japonesa é uma das únicas no mundo a possuir uma “poética fundacional por escrito” (outros exemplos seriam as civilizações chinesa, grega e latina) — um texto de intenção estético-didática que lista as condições, categorias e mecanismos necessários para se escrever poesia.
Vamos encontrar o alcance e a presença dessa cristalização estética nos mais diversos campos: desde o haicai de Bashô, que surgiu de uma reorganização desse universo poético e está impregnado de “coisas do Kokin’wakashû”; passando pela pintura; pela codificação do amor cortês; pelos padrões de beleza; pela estilização do erótico e de outras tecnologias de gênero; pela história das sensibilidades; pela decoração, moda, arquitetura, artes aplicadas, gastronomia, teatro, e muitas outras áreas.